PARTE 2 – Oriente Médio
O que piorou tudo foi a existência da Rota da Seda que servia como caminho perfeito para os vetores da doença viajarem entre Ocidente e Oriente, levando e trazendo a doença múltiplas vezes.
E foi através justamente da Rota da Seda, junto com navegantes que tiveram contato com os infectados em Constantinopla que a Peste chegou ao Oriente Médio.
O cronista egípcio medieval Al-Mazriqi notou que “mais de 300 tribos pereceram sem aparente nenhuma razão em seus acampamentos de verão e de inverno, durante seu pastorio na estação migratória”.
Ele ainda iria alegar que “Toda a Ásia havia sido despovoada da Pérsia a Península da Coreia”.
Em Alexandria, os mortos chegaram a até 700 por dia, com funerais coletivos para tantos mortos. De lá, ela seguiu para o Sul, devastando as vilas próximas às grandes plantações de trigo. Essa praga não era para o trigo, mas para os seres humanos. Campos gigantescos permaneceram sem ter quem os conhece.
A medida que a doença ia para o Sul, ela devastavam tudo em seu caminho, quando chegou a Cairo, o Sultão e a elite da cidade fugiram e deixaram a cidade aos seu próprio destino.
Ao final da praga, Cairo era “como um cemitério, silencioso e vazio”.
Michael Dols afirma que o número de mortos somente nesta cidade foi de cerca de 90.000.
Segundo alguns historiadores focados em economia, a Peste Negra teve no Egito um efeito de longo prazo similar ao das cruzadas na região levante, causando grande destruição de riqueza e diminuição drástica da sofisticação da economia.
Isso acontece porque ao contrário de outros lugares, o Egito sofreria com alguns surtos da Peste por quase 500 anos após a grande pandemia.
Só para se ter uma ideia, Cairo sofreria outro surto em 1460 que ceifaria cerca de 70.000 vidas.
Al-Maqrīzī ainda falaria:
“A cidade portuária de Aswan foi destruída e já foi uma das maiores cidades portuárias muçulmanas; agora nada resta de amiros, pessoas influentes, mercados ou casas. A maioria das cidades do Alto Egito foi obliterada. Cairo e seus arredores perderam metade de sua riqueza. E dois terços da população do Egito foi exterminado pela fome e pela peste”.
O historiador ‘Imād Abū Ghāzī sugere que o Egito rural perdeu mais de 40% de sua população de 1347 a 1517.
A devastação foi tão profunda que A produção agrária do Egito em 1597 era de apenas 45% do que tinha sido em 1315.
Ibn al-Wardi, um escritor medieval da Sírio escreveu que a Peste Negra veio da “Terra das Trevas” ou, como chamamos hoje, da Ásia Central. De lá ela se espalhou para China, a Índia, o mar Cáspio, a “Terra dos Uzbeks” e dali para a Pérsia e para o Mediterrâneo. Ele mesmo iria morrer nas mãos da praga em 1348.
Mais uma prova que a Rota da Seda foi um meio extremamente conveniente para a transmissão da doença é o fato que já em 1335 o Il-Khan, ou Abu Said, um mongol que governava a Pérsia e o Oriente Médio, morreu da Peste Bubônica durante uma guerra com seus primos do norte da Horda Dourada.
Assim como aconteceu na China, a Peste Negra marcou o início do fim do domínio mongol sobre a região.
Estimativas da época sondavam que 30% da população da Pérsia pereceu nas mãos da praga.
E, assim como na China, as erupções de caos causados pela queda do domínio Mongol e pelas invasões de Timur atrapalharam ainda mais a lenta recuperação da população na região.
No livro “As Viagens de Ibn Battuta”, o grande viajante notou que em 1345 “o número de mortos que morriam por dia em Damasco chegou a 2 mil”. Em 1349, a cidade sagrada do Islã, Meca, foi atingida pela peste, provavelmente levada por peregrinos, ela também sofreu grandes perdas populacionais.
Observadores europeus ficaram fascinados, mas não muito preocupados com a Peste. Um cronista recordou que “A Índia estava despovoada, Tartaria, Mesopotamia, Siria e Armenia estavam cobertas de cadáveres, e os pobres curdos tentaram em vão fugir para as montanhas”.
No entanto, eles logo iriam se tornar participantes dessa catástrofe que por enquanto só observavam.
O historiador marroquino, Ibn Khaldun, cujos pais morreram na praga escreveu a seguinte passagem sobre a pandemia:
“A civilização no Oriente e no Ocidente foi visitada por uma praga destrutiva que devastou as nações e fez desaparecer as populações inteiras. Isso engoliu muitas das coisas boas da civilização e as eliminou … A civilização diminuiu com a quase erradicação da humanidade. Cidades foram destruídas, estradas e sinalizações foram destruídas, assentamentos e mansões ficaram vazios, dinastias e tribos ficaram fracas. Todo o mundo mudou. “
Este post foi publicado em: Aurora Oriental