Educação

Português como Língua de Herança

Morar no exterior nos traz grandes desafios em diversos âmbitos da vida. Se você é mãe brasileira com filhos vivendo no exterior, o maior desafio é dar uma educação cultural sobre as nossas origens.

Aqui no Egito, você não vai encontrar escolas ensinando português. Há faculdade de Letras que ensina o português, mas por que esperar o seu filho chegar à idade adulta e sentir-se na obrigação de entrar na faculdade só pelo idioma?

Ensinar o português aos nossos filhos é a forma que podemos transmitir nossa herança intelectual e cultural. Percebo que muita gente tem receio de que os filhos vão atrasar se aprender vários idiomas quando pequenos, não precisa ter medo, nossos filhos são interculturais e bilingues, é possível aprender multíplos idiomas ao mesmo tempo.

A importância da leitura em português em famílias multiculturais

O cérebro de uma criança é como uma esponja, por isso ela assimila e aprende rápido, a mesma coisa acontece em relação ao idioma.

No início é comum fazer a salada, misturar os idiomas expostos numa mesma sentença, isso tudo é nomal!

Como introduzir o idioma?

Desde o nascimento se comunique com o seu filho em português, naturalmente ele vai aprender. Tente introduzir os desenhos animados e livros, será uma forma de estimular o idioma. Faça atividades e jogos lúdicos, brincadeiras populares e prepare a receita de família com seus pequenos, aprender brincando é a forma mais interessante de introduzir o idioma nos primeiros anos.

E o mais importante não tenha pressa! Trate o ensino da língua como algo normal. É necessário que a criança sinta-se a vontade, se você fizer pressão isso pode levar ao bloqueio.

Língua de herança: como ensinar português em casa?

Um dos sistemas que o as escolas internacionais do Egito usam para ensinar a escrever é o Jolly Phonics. Ele ensina a escrever usando o som das letras. Para crianças em alfabetização acelera bastante o processo, porque geralmente preciso trabalhar com crianças que falam inglês e árabe. Para ensinar uma língua para criança é preciso entender que gramática vem depois. Primeiro a criança tem que ter afinidade com a língua e se sentir á vontade de se expressar no idioma. Não adianta forçar e corrigir todos os erros, isso acaba inibindo a crianças. Quando uma criança erra, eu repito a frase da maneira certa, e sempre escolho um tema que pode ser trabalhado de maneira lúdica. Pode ser um conteúdo como sotaques regionais, foguetes espaciais, comida típicia, música, e brincando mesmo a gente explora a língua. Assistir desenho animado ajuda bastante. Ler quadrinhos, piadas e charadas também. Brincadeiras como forca, músicas de roda… são ferramentas para deixar a experiência mais tranquila, divertida e eficiente.

Evelyn Koch – Professora de Inglês e Português no Egito

Processo de alfabetização

Sinceramente eu ainda não cheguei nessa fase, mas já ando lendo bastante sobre o assunto. Adquiri recentemente o livro Brasileirinho: Português para crianças e pré-adolescentes, um material de apoio didático para crianças e pré-adolescentes brasileiros que estão fora do Brasil. Além de ensinar a língua portuguesa, o livro ilustra a cultura e costumes do Brasil.

Leia mais: Alfabetização fonética e ensino do POLH

A Evelyn Koch, uma das autoras aqui do blog, é professora de inglês e português para crianças e, ela também ministra aulas particulares.

A frequência que eu recomendo são aulas de 1 hora, uma ou duas vezes na semana para crianças alfabetizadas. 2 vezes na semana para crianças não alfabetizadas. Mais que uma hora é puxado, mas para crianças acima de 8 anos até 2 horas funciona. A hora/aula varia entre 100 a 200egp. O ideal é iniciar as aulas quando a criança já consegue formar frases (no caso do inglês) e no caso de português, quando a criança consegue compreender o que foi falado. O legal é ver o que a criança gosta e fazer atividades do que ela gosta. Em aula de português eu também faço isso, vejo o que o pessoal gosta de conversar e vou trabalhando os conceitos em cima.

Evelyn Koch – Professora de Inglês e Português no Egito

Mães Brasileiras no Egito

Conversei com mães brasileiras para saber como elas lidam com o ensino do português aqui no Egito, confira abaixo:

Eu converso com eles só em português, eles conversam bastante com minha família no Brasil por vídeo call e nós assistimos filmes brasileiros, Tem uma brincadeira que eu faço com eles que eles amam, que é assim, eu falo uma palavra em inglês ou árabe e peço a eles para traduzir, vira uma bagunça porque mesmo quando não conseguem traduzir com a palavra exata, eles acabam inventando, por exemplo pedi ao Yassin para traduzir a palavra “Travel” a tradução dele foi essa: “fazer as malas e ir embora” Porque ele não lembrava da palavra “Viajar”. Também conto histórias infantis em português. E agora estou me programando para ensiná-los a escrever.

Josiane Marques mora no Cairo, é mãe de 2 crianças, idades 5 e 7 anos.

Eu utilizo livros que trouxe do Brasil pra ler histórias pra eles sempre que posso. Alguns DVDs tb. Além disso, conversamos em português o tempo todo, afinal essa eh a língua “fraca” atualmente aqui pelo fato de termos somente uns aos outros pra mantê-la, já que eles podem sempre aperfeiçoar o árabe/inglês com a escola e o resto da família e amigos daqui.

Então o que eu faço é falar com eles o tempo inteiro em português, e quando eles falam com o pai ou outra pessoa já mudam pro árabe/inglês automaticamente, sem nem perceber.

Shirley Teles mora no Cairo, é mãe de 2 crianças, idades 6 e 11 anos.

Eu falo com eles em português, mas ainda não entrei na alfabetização com salah porque ele está aprendendo esse ano na escola nos dois idiomas árabe e alemão. Depois quando estiver firme mais pra frente eu devo procurar algum método

Tati Hafez mora no Cairo, é mãe de 3 crianças, idades 1, 5 e 7 anos.

Eu tenho duas meninas e desde o início da gravidez li muito sobre o assunto e elas falarem a minha língua é uma questão de extrema prioridade para mim. Lemos livros juntas, assistimos canais do Brasil, elas conhecem sobre a nossa cultura, nosso folclore. Acho que tudo é importante. E tenho muito orgulho em dizer que minha filha mais velha (4 anos) fala português melhor do que árabe, mesmo tendo nascido e morando aqui. Pra mim essa consistência de agora é muito importante porque tenho consciência de que a medida que ela for crescendo terá amiguinhos que falarão árabe, terá a própria vida dela e talvez o português seja minimizado na vida dela, então eu foco muito nessa primeira infância, pra que assim ela aprenda isso de tal maneira que possa levar pra vida toda!

Ana Sandra mora no Cairo, é mãe de 2 crianças, idades 1 e meio, e 4 anos.

Desde que soube que seria mãe sempre desejei poder me comunicar com meu bebê em português. Então, desde o ventre a Dareen já ouvia muito Legião Urbana, Elis Regina e moda caipira daquelas tipo Tonico e Tinoco. Lógico que quase todas noites o pai dela fazia questão de apagar as luzes da casa, abrir a janela para ver o brilho da lua e escutar Oum Khaltoun. Eu não gosto muito, mas faz parte da cultura deles.

Ela nasceu no Brasil, mas veio para o Egito com dois meses e desde então não voltou mais. Infelizmente nossa viagem foi desmarcada esse ano.
Desde o princípio só falei em português com a Dareen, tudo muito natural, não fiquei presa em regras, lógico, cada fase com uma liguagem. Não da para falar gugu dada para sempre.

Sempre escutei muita música brasileira, coloquei muita galinha pintadinha para ela, palavra cantada e até aprendeu cantar um pedaço de ” lampião de gás” música muito antiga que meu avô cantava para mim e meus irmãos. Para mim foi emocionante ver a minha filha cantando isso.

A primeira palavra que ela pronunciou não foi em português, foi em árabe, acho que já estava com 8 meses. AAAAA BABA (ALLAH AKBAR), minha casa ficava bem na frente do autofalante da mesquita, então foi por repetição. Depois foi Baba, mama e o nome do porteiro. A partir daí disparou. Hoje fala, escreve e lê português muito bem.

Quando ela completou 4 anos, colocamos em uma escola francesa, ela e alfabetizada em francês, e para minha surpresa as professoras me disseram que ela não sabia falar árabe bem, e que elas só entendiam a Dada por que algumas palavras do português são muito próximas do francês.

Como ela aprendeu arabe? Com as amiguinhas, quando ela completou 5 anos já falava árabe como qualquer criança egípcia.

Sempre enfatizei a língua portuguesa e nossas raizes, para que, quando ela falasse com a familia no Brasil se sentisse parte dela, já que a cultura egípcia é muito forte e facilmente pode suprimir o outro lado da identidade. A língua para mim além de unir mais ainda nós duas é uma porta para a pluralidade, para esse mundo que cada vez mais exige integração. Hoje ela fala português, francês, àrabe e entende muito bem inglês. Estou preparando minha filha para a vida. E a língua é uma dessas ferramentas.

Nane Magossi mora em Alexandria, é mãe de 1 criança de 9 anos de idade.

Mãe, você abraçou um novo país, mas você nasceu e se criou em berço brasileiro, ensine aos seus filhos o valor da sua terra, do seu povo, da sua cultura, ensine o Português. Essa é a herança que vai permanecer com eles para o resto da vida e vai se propagar por gerações.


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