A música é uma das artes mais difundidas no Egito a exemplo dos grandes clássicos do passado com Abdel Halim e Umm Khulthum ou ainda com a explosão pop através de Amr Diab, e até mesmo com o shaabi das antigas como Hakim, Ahmad Adaweya e Saad El Soghayar.
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Na atualidade um “novo” gênero, que na verdade não é tão novo assim, tem ganhado uma imensa popularidade tanto no Oriente Médio quando no exterior. Mahraganat significa “festivais” na língua árabe, ele também é popularmente chamado de street shaabi ou eletro shaabi (devido às batidas eletrônicas).
Esse estilo musical surgiu já nos anos 2000 nos subúrbios do Cairo e após a revolução caiu no gosto popular e se espalhou pelo restante do país.
Os artistas de Mahraganat mais famosos incluem Hamo Bika, Oka wi Ortega e Hassan Shakosh, Madfaageya (Canons), Etihad Al-Qemma (Top League), Figo, Fareek al-Ahlam (Dream Team) e o produtor mais famoso é Figo Al-Dakhlawi. Algumas estrelas de Mahraganat ganharam fama após o aparecimento em filmes e comerciais da TV de grandes empresas como Vodafone e Etisalat.
Mahraganat foi além de um estilo musical e influênciou a forma de se vestir e também de dançar. Se fizermos uma comparação bem generalizada, o movimento Mahragan é equivalente ao Hip Hop nos EUA.
As letras das músicas são escritas no árabe coloquial egípcio, os temas podem falar sobre relacionamento, cotidiano e política.
Mahraganat é tocado em quase todo lugar, é a trilha sonora mais comum dentro dos tuk tuks, nas festas e nos casamentos de rua.
Para a maioria de baixa renda do Egito, os casamentos de rua são a principal fonte de entretenimento. Festas em ruas apertadas, decoradas com tendas de khayameya e repletas de luzes coloridas. Nesse cenário você não ouvirá Amr Diab ou uma outra música romântica, a música que explode nos alto falantes é mahraganat com sua batida sintética com tabla e nuances eletrônicas.
Em seu próprio álbum, 3Phaz abraça o mahraganat e outras formas de música de rua egípcia, especificamente as variedades instrumentais, impulsionadas por ritmos fortes, batidas frenéticas de bateria e teclados penetrantes projetados para soar como um mizmar. Ele então o filtra através de suas próprias paixões pelo techno, footwork e design de som experimental.
Billboard – This is Mahraganat
Os fãs de Mahraganat amam a simplicidade e a independência que esse tipo de música traz. O gênero representa com intensidade o triunfo das comunidades pobres.
Porém nem todo mundo está contente com o gênero que tem alcançado o mundo, o mahraganat provocou o público conservador, sendo alvo de constantes críticas devido às letras consideradas ofensivas e um perigo para os valores egípcios.
Mahraganat ficou por um fio no último fevereiro, quando o cantor Hassan Shakosh tocou uma música de sucesso durante um show do Dia dos Namorados no Cairo Stadium, na música há menção sobre fumar haxixe e beber álcool. O caso levou Hany Shaker, chefe do sindicato dos músicos, proibiu o mahraganat, impedindo assim apresentações em qualquer lugar do país.
“Mahraganat é um “vírus” “mais perigoso que o coronavírus para a sociedade egípcia e para todas as sociedades árabes”.
Salah Hasballah – Porta-voz do parlamento egípcio durante fala em um noticiário local após a decisão de Hany Shaker.
Fayrouz Karawya, uma socióloga egípcia, explica:
“A controvérsia ocorre porque os músicos mais velhos sentem que estão perdendo seu poder simbólico, algo que já foi visto no caso do popular cantor Hamid Al-Shaaeri e sua música Lolaki nos anos 80. Esquecemos o alvoroço e a indignação que essa música causou, mas agora até a consideramos um clássico, embora na época fosse considerado cafona e vulgar. A arte está nos olhos de quem vê. Música que contém violência, ódio ou discriminação de gênero é uma coisa, mas essa música tem sua própria poesia. Alguns descrevem a música como grosseira, vendo seus produtores como vulgares e detestando seu comportamento. Mas a questão é por que certos círculos acreditam que têm o direito de regular a arte proibindo-a. De fato, é a popularidade da música que protegeu os cantores da desaprovação da elite. Existe a elite cultural, é claro, que quer manter sua posição na sociedade e combater o que sente ser a deterioração das indústrias musicais e culturais. Para essas pessoas, Mahraganat é como um bode expiatório para se apoiar em todos os seus desapontamentos, pois agora eles precisam entregar o bastão à geração mais jovem. ”
Fayrouz Karawya em entrevista para o jornal Al Ahram
Mahraganat faz parte da sociedade egípcia e isso é um fato. Em qualquer local que você passar você poderá ouvir a sua batida. Você já ouviu mahraganat? Qual a sua música favorita?
Referências: Billboard, Ahram , The Guardian e MEI
Categorias:Arte e Cultura
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