O médico influencer brasileiro Victor Sorrentino veio para o Egito há alguns dias atrás e durante a sua viagem postou diversos stories, fotos e vídeos sobre seus passeios.
Em um deles o médico registra a visita a uma loja de Papiros no Cairo , e grava uma moça egípcia explicando como o papiro é feito. Durante a explicação, o médico aproveita para fazer comentários sexistas: “Vocês gostam mesmo é do bem duro, né? Comprido também fica legal, né?”, diz ele enquanto ri. A vendedora parece não entender o real significado do que ele disse, e apenas balança a cabeça concordando.
O vídeo foi publicado pelo médico em sua conta do instagram e removido horas depois após receber vários comentários indignados com sua atitude.
O médico chegou a fazer outro vídeo na loja dias depois, se desculpando com a moça, onde segundo ele, a tal piada não passava de uma brincadeira, e ele brincaria dessa forma com qualquer amigo ou familiar.
Muitos egípcios gostam e admiram a cultura brasileira, e adoram receber muito bem os turistas brasileiros no Egito. Em qualquer local que você vá, os egípcios vão te receber com sorriso largo e com hospitalidade para que você se sinta bem vindo ao país.
A moça egípcia trabalha com turistas diariamente, a atitude do médico a pegou de surpresa, não tinha como se defender, estava no seu local de trabalho, e foi colocada numa situação extremamente constrangedora. O que nos leva a refletir também: Por que as pessoas que estavam no local não tomaram alguma atitude para defender e proteger a moça?
Ativistas brasileiros como @isuperio e @fabioiorio e diversas mulheres entraram em contato com ‘Speak Up’, uma página feminista egípcia, e compartilharam a história para trazer justiça para a vítima. Várias páginas e contas egípcias contra assédio sexual falaram sobre o incidente quando ele se tornou viral. Além disso vários jornais e programas de TV tanto no Egito quanto nos países árabes também noticiaram o ocorrido.
O caso chegou até às autoridades egípcias, e na tarde de ontem (domingo, 30 de Maio) o Ministério do Interior do país anunciou a prisão do médico. Segundo fontes do English Ahram, o influenciador brasileiro foi preso enquanto tentava deixar o país.
E AGORA? O QUE ACONTECE?
Segundo a publicação do Ministério do Interior nas redes soiais, os serviços de segurança do Egito identificaram vítima e assediador, e conseguiu deter o médico em território egípcio. Medidas judiciais serão tomadas e um proesso será estabelecido.
Perguntamos à advogada brasileira @amandapimentas, que atua no Egito com refugiados, sobre como seria o processo realizado e ela nos informou que o médico responderá segundo a lei Egípcia. Ao responder pelo crime de assédio, um crime de honra, ele provavelmente conseguirá se ver livre após o pagamento de uma fiança.
O assediador, segundo a lei egípcia, ficará preso até ser apresentado a um juiz. Isso pode levar dias, talvez algumas semanas – provavelmente por ser estrangeiro será um pouco mais rápido.
Segundo fontes confiáveis, o consulado brasileiro já o visitou na prisão para averiguar se Sorrentino tem acesso à advogados.
Esse é um dos primeiros casos, se não o primeiro, onde um brasileiro é preso no Egito por causa de assédio. A maioria dos brasileiros presos são por causa de drogas.
Após o famoso caso Fairmont, em 2020, o Egito testemunhou um novo despertar em sua luta contra a violência sexual.
O artigo 306 do código penal do Egito declara que os culpados de assédio sexual verbal em um local privado ou público serão sentenciados a um mínimo de seis meses de prisão e multa não inferior a 3.000 libras egípcias. Se os infratores repetirem um ato de assédio sexual verbal, receberão no mínimo um ano de prisão e serão multados em não menos de 5.000 libras egípcias.
Então, após um juiz pegar o caso de Sorrentino, caso ele seja julgado e condenado, ele responderá de acordo com este artigo. Caso não for condenado, pagará fiança.
ASSÉDIO É UM PROBLEMA NO EGITO
Milhões de mulheres egípcias e estrangeiras são vítimas de assédio sexual diariamente.
O Egito criminalizou o assédio sexual em 2014, com punições que incluem penas de seis meses a três anos e / ou fianças/multas altas.
Desde meados de 2020, o Egito testemunhou um novo despertar em sua luta contra a violência sexual. Começando com o infame caso ‘ABZ’, em que um homem foi acusado de agredir sexualmente e estuprar dezenas de mulheres, os ativistas se mobilizaram para combater o que foi descrito como uma ‘epidemia’.
Moro aqui há mais de dois anos, com meu marido (brasileiro). Antes de morar aqui, morei em outros países e viajei muitos outros e nunca vi e vivi nada como o que vivo no Egito.
O assédio é uma das partes mais difíceis para mim. Mesmo eu morando em um bairro de classe alta, com mais estrangeiros e embaixadas, não me sinto protegida. Aliás, na rua da minha casa eu não ando mais. Já fui seguida, homem tentando encostar, pegar, homem tirando foto, grupos vindo atrás e outros tipos de assédios piores, na minha própria rua, imagina em outros lugares. Já tive experiências péssimas aqui e só não tive outras piores porque eu simplesmente passei a evitar sair na rua e andar normalmente como andava em qualquer outro país.
Mesmo com meu marido do lado, não me respeitam. Me sinto como um pedaço de carne.
Até as autoridades, muitos não respeitam. Já fui visitar presas na cadeia, e os próprios policiais me assediaram a ponto das próprias prisioneiras me defenderem.
Essa é a minha realidade, e a realidade de muitas outras mulheres que conheço. Principalmente as que vivem uma vida mais local. Sem grandes privilégios financeiros.
É óbvio que existe exceções, existem lugares que não há um assédio tão aberto, mas são bolhas no meio de um país tão grande e cheio de desigualdade.
O Egito é um país maravilhoso e cheio de lições. Mas não é um país fácil.
Depoimento de uma brasileira que vive no Egito, sua identidade foi preservada.
Ainda no ano passado, o Parlamento egípcio aprovou uma lei para manter a identidade das vítimas de agressão e assédio sexual em sigilo para proteger sua reputação e incentivá-las a apresentar suas denúncias à polícia.
Acompanhando a repercussão do caso no Brasil, vimos vários comentários no Twitter e Instagram do tipo “No Egito a lei/justiça funciona”, mas as coisas não são bem assim.
O sistema judicário no Egito assim como no Brasil é falho, é importante ressaltar que esse caso viralizou então uma mulher egípcia foi protegida de um assediador estrangeiro. Mas quando o sistema realmente funcionar, milhares de mulheres egípcias e mulheres estrangeiras serão protegidas de assediadores egipcios que estão ao redor delas todos os dias.
O assédio sexual é um problema no Egito, e muitos órgãos e entidades vem trabalhando para combater por meio de denúncias. Nem sempre há provas, e raramente ganham repercussão e apoio popular como o caso do médico brasileiro.
Todo assédio deve ser denunciado, e nenhum assédio é maior ou menor que outro, é um crime que deve ser combatido.
É preciso, resistir, divulgar, denunciar, e jamais se calar.
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Extremamente Vergonhoso , Desastroso ato misógino deste quadrúpede! Um absurdo!
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Se ele fez isso com uma vendedora imaginem o que ele faz com pacientes dele.Vale apena investigar….Canalha
Adair j Fernandes
Oratórios MG.
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