No Vida no Egito somos 3. A Mayara que vive no Egito faz mais tempo, é da Paraíba e mulçumana revertida, a Patrícia do Paraná que vive há quase 4 anos no Egito e está passando uma temporada no Brasil por conta da pandemia, tem uma visão mais concreta de espiritualidade e eu que sou cristã.
Quando estourou o caso do doutor e da egípcia, o Vida no Egito ficou uma loucura com todas nós nos revezando para responder vocês, os comentários, monitorar as redes, falar com a imprensa… Mas uma coisa me deixou muito incomodada, e quero usar esse espaço aqui para falar sobre isso. Muitos cristãos oferecendo a outra face, não a deles, é claro, mas oferecendo pela moça que foi a vítima!
No universo cristão, o abuso e a violência vem sido por anos calados com uma falsa piedade.
O discurso de dar a outra face é muitas vezes exigido da vítima. Não só dela, da família, da congregação também, ninguém está preparado para falar ou ouvir sobre isso.
A aparentemente moralidade do acusado também é usada muitas vezes para desacreditar a vítima, que pode vir a ser inclusive cupabilizada. Os que se movimentam em prol de justiça ou defendem a vítima são vistos como desordeiros ou cruéis.
Infelizmente, ao contrário do que algumas pessoas insistem, pais de família, bons maridos, bons profissionais podem também ser agressores. Nada disso anula um crime ou o atenua.
Alguns vão em vítimas mais vulneráveis ou consideradas menos moralmente aceitáveis de propósito, porque sabem que será mais fácil sair impune.
Como nesse caso, muitos vieram até nós pedindo que perdoassemos o ocorrido, nos acusando de privar um filho do seu pai ou um membro exemplar da sociedade de sua liberdade. Não é da nossa autoridade nada que tramita na justiça, e ter filhos pequenos não muda o que ele falou.
Um cristão não deveria falar desse jeito, deveria aceitar a correção e pedir perdão.
Defender a impunidade dele, é restringir o direito de uma mulher que tem o direito de se defender. É um uso distorcido do caráter cristão, que repetidas vezes torna muitos desses casos obsoletos.

Como a oração cristã ensina, “perdoa nossas divididas, assim como nós perdoamos a nossos devedores” não temos autoridade de perdoar os que ofendem outras pessoas. A própria bíblia deixa claro que perdão vem com reparação do dano causado.
Destaco que logo após essa frase, vem “não nos deixe cair em tentação” ou seja, é da responsabilidade do próprio cristão com Deus se afastar do que for tentador e errado.

Impunidade não tem nada a ver com cristianismo, mesmo quando muitos cristãos agem assim, oba-oba e perdão não tem nada a ver com a justiça divina. A pena para o erro é grave, e não leviana. Por isso mesmo que nós precisamos lidar com nossas falhas e evitar as tentações.
Seja qual for a sua religião, espero ter sido respeitosa enquanto fui muito franca. Não estou dizendo que o que aconteceu foi entre duas religiões, mas sim que na minha religião foi feito algo contrário ao que ela mesma exige.