Toda vez que eu vejo brasileiro falar bem da segurança do Egito me dá um nó na garganta.

Talvez seja bem seguro para quem anda só no próprio carro, 4×4 e vive no subúrbio.

Ou ainda pra quem é tem cônjuge árabe ou egípcio e consegue navegar pela cultura tranquilamente por conta de origem árabe, ou religião.

É seguro pra quem não assiste o equivalente a nossa imprensa vermelha, no máximo assiste novela egípcia mas não jornal ou acompanha as notícias do bairro.

Você pode me dizer que alguém levar sua bolsa, relógio ou celular não acontece na mesma freqüência que no Rio de Janeiro. Mas se você estiver na Zona Sul do Rio, ou no interior vai andar muito mais tranqüilo do que em alguns bairros do Cairo.

Podem não apontar a arma para você mas você é passado para trás várias vezes. Pelo taxista, pelo dono do seu apartamento, pelo seu chefe. E muitas vezes não tem o que se fazer a não ser ficar olhando com cara de besta.

A delegacia não para. As pessoas brigam e se machucam quando os carros batem. Criam boatos absurdos sobre vizinhos, e claro egípcios também roubam. Existe roubo no Egito. Aviso que qualquer lugar movimentado tem batedores de carteira. Seja na rua 9 de Maadi ou no Hussein.

Refugiados que se tornam vitimas de tráfico de órgãos,pedofilia, estupro seguido de homicídio são algumas das notícias que chegam em Árabe pelo whatsapp.

Os motoristas de aplicativo que sequestram passageiros, assediam ou os roubam também deixam qualquer um assustado. Aliás, qualquer um não. Só quem depende desse serviço.

Outra violência você vê nas ruas na miséria. A violência de crianças mendigando com o olho roxo de abuso em casa. Pessoas com feridas expostas na porta do metro, que vendem lencinho de papel enquanto as moscas se alimentam de suas entranhas.

Se você vive em qualquer lugar que não seja o Rio ou São Paulo, o Egito é sem eufemismo assustador. A cultura diferente, os becos, o lixo, o ritmo. Por isso te aviso, vem com carro, vem com alguém que fale árabe junto, vem com dinheiro e emocionalmente preparado.

Mas passa o dia, passa o ano, você se acostuma. Aqui você pode sacar dinheiro e contar do lado do banco. Se alguém está bem perto de você na hora que você está no caixa eletrônico dificilmente será por outro motivo a não ser pressa e curiosidade.

Você se acostuma. E se o dono do seu apartamento não devolve o depósito, segue a sua vida. Se cobram 3 vezes mais de você num café porque você não sabe a língua, segue a vida. Se o entregador nunca tem o troco… Tudo isso vira parte do seu dia, invadindo sua segurança.

Por isso que quando alguém da zona norte, me diz que o Cairo é seguro, sem nunca andar na zona norte do Cairo… Eu sorrio e aceno. Segurança é uma perspectiva que nós não compartilhamos no mesmo nível.

A inteligência e a Polícia Egípcia também é muito mais proativa que a brasileira. Nosso exército não vive em uma ameaça de guerra e espionagem, enquanto o egípcio sim. Tudo isso explica um pouco mais porque as coisas são do jeito que são.

Ao entrar no metro ou no shopping você e seu carro são verificados, seu porta-malas… Não se tem isso no Brasil.

Conclua como quiser e com certeza vou respeitar as perspectivas de quem sente o Egito muito mais seguro do que o Brasil! O importante é reconhecer que mesmo assim, cuidado e prudência é exigido de nós em qualquer cenário.