Na tarde de segunda-feira, o Egito se assustou com a notícia da província de Dahaqliya de que uma estudante foi morta por seu colega em plena luz do dia do lado de fora do campus da Mansoura College.
Ela foi abatida após um vídeo extremamente chocante mostrando os últimos momentos de seu assassinato e a prisão do assassino, para ser exato.
Os vídeos e fotos de seu corpo de camisa amarela e calça jeans, deitado em seu próprio sangue na calçada suja até a chegada da polícia, estão entre as piores cenas para se ver este ano.
Naira Ashraf, de 21 anos, estudante da Faculdade de Letras do Mansoura College, foi assassinada por um colega cujos avanços ela havia rejeitado várias vezes. Segundo relatos, o assassi um aluno nota A, de acordo com os professores da faculdade.
Ele e Naira eram da mesma aldeia na cidade de Mahalla, na província de Dahaqliya, no Delta do Nilo. Ele queria Naira, que é incrivelmente linda, e a pediu em casamento, mas ela o rejeitou.
Segundo o pai, que trabalha como professor, a estudante de 21 anos não queria se casar naquela época e queria focar nos estudos e na carreira.
O assassino perseguiu tanto Naira offline e online que, segundo seus amigos, ela o bloqueou no Facebook e, segundo alguns relatos, chegou a denunciar ele à polícia.
Na segunda-feira, ele pegou o mesmo microônibus que ela usava para viajar de sua aldeia para a faculdade e a perseguiu. De acordo com testemunhas oculares, houve uma discussão no microônibus, a ponto de os passageiros e o motorista a manterem longe um do outro.
Quando chegaram, ele desceu na frente dela perto do campus da faculdade, e esse foi um dos últimos momentos de sua vida. De acordo com testemunhas oculares, ele disse algo para ela, ao que ela respondeu. Em seguida, ele pegou uma faca que havia escondido e a esfaqueou cerca de quatro vezes no peito e no coração.
Ele foi parado por alguns cidadãos que o afastaram até a chegada da polícia. O Ministério Público está investigando o crime.
Como vivemos na era dos celulares, parte do crime foi filmado e caiu na internet como um choque para todos.
De acordo com sua família, Naira Ashraf estava a caminho dos exames na segunda-feira e retornou a eles como cadáver.
De volta à aldeia, muitos egípcios ficaram chocados ao saber que o assassino era um jovem quieto cuja voz eles só ouviam quando ele “bateu na mãe ou nas irmãs”.
Sim, os vizinhos falam dele bater na mãe ou nas irmãs como se fosse uma coisa natural!!! Não acreditei quando vi os vizinhos do campo falando assim.
O assassinato de Naira pode ser resumido em uma palavra: Feminicídio.
Feminicídio é o assassinato intencional de mulheres ou meninas por serem mulheres. O feminicídio é um problema global. “A violência entre parceiros íntimos afeta 3 em cada 10 mulheres ao longo da vida. Estima-se que 13,5% dos homicídios em todo o mundo sejam cometidos por parceiros íntimos.” – Wikipédia
Em outras palavras, em um feminicídio, um homem mata uma mulher por um assunto íntimo. Este não é um parceiro ou ex-parceiro, mas também pretendentes rejeitados como no caso de Naira e muitas outras meninas e mulheres como ela.
Nem 24 horas se passaram após o assassinato de Naira ou como dizemos no Egito “seu corpo ainda está quente na sepultura” e encontramos outro assassinato horrível de uma jovem de 24 anos esfaqueada até a morte pelo próprio irmão por causa de uma disputa familiar!
No sábado, um jovem matou sua irmã mais velha em Fayoum. Ele a esfaqueou até a morte após uma discussão entre os dois porque a acusou de ser divorciada duas vezes.
De acordo com o relatório da Fundação Edraak para Desenvolvimento e Equidade sobre violência contra as mulheres divulgado em fevereiro, 296 mulheres foram assassinadas no Egito em 2021, 214 delas por seus maridos. A província de Gizé teve o maior número de casos de homicídio feminino, seguida pelo Cairo.
No mesmo ano, foram registrados 78 casos de tentativa de homicídio de mulheres. Os tribunais e o Ministério Público registraram 74 casos de espancamentos graves contra mulheres que sofreram fraturas e deficiências permanentes ou temporárias. Infelizmente e curiosamente, Daqahlia está no topo das províncias quando se trata de casos de espancamento severo de mulheres em 2021.
Os números no entanto não retratam a condição real pois é um assunto subnotificado.
Adolescente que reagiu
Uma adolescente somali acusada de matar um motorista de tuk-tuk que supostamente tentou estuprá-la foi libertada da custódia no Egito.
A jovem de 15 anos ficou detida por quatro dias depois de se entregar às autoridades, informou a mídia local.
A polícia e especialistas forenses concordaram, no entanto, que havia evidências de que ela provavelmente agiu em legítima defesa, de acordo com a promotoria egípcia.
Ela foi liberada na sexta-feira, aguardando uma investigação mais aprofundada.
De acordo com o Ahram Online, a garota disse à polícia que o motorista a levou para um local remoto onde tentou estuprá-la.
No entanto, ela resistiu e feriu as mãos na faca dele antes de conseguir arrancá-la do suposto agressor.
Em seguida, ela o esfaqueou e fugiu.
O corpo do homem não identificado foi encontrado em 17 de maio na cidade de Gizé, perto da capital Cairo.
O caso já havia atraído a atenção de usuários de mídia social no Egito, que pediram ajuda a advogados e grupos de destaque para ajudar a menina.
Pesquisas sugerem que agressão sexual e assédio são comuns no Egito. Um estudo de 2013 da ONU descobriu que 99,3% das meninas e mulheres no país relataram ter sofrido algum tipo de assédio sexual durante a vida.
Apesar das recentes mudanças legislativas para aumentar as penas para os culpados, as autoridades egípcias são acusadas de frequentemente não investigar e processar homens acusados de assediar sexualmente ou agredir mulheres e meninas.
Infelizmente no Brasil a situação me parece até pior, foram mais de 1300 feminicídios em 2021, 89% sendo feito pelo marido/ex marido. E a cada 10 minutos, ocorreu um estupro.
Falam tão mal da cultura machista árabe, mas o Brasil me parece mais machista e violência que o próprio Egito, mesmo levando em conta a proporção da população dos dois países
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Oi Cláudia! Não existe comparação. Não é sobre um lugar ser melhor e outro ser pior. O crime é real, absurdo e com instituições sociais que o viabilizam. Temos que combater, não nos perder em comparações. Enquanto existir o perigo de ser morta, não é seguro.
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Só fiz a comparação por serem dois países que amo, mas como eu disse, além de leis que devem ser cumpridas, há que se mudar a mentalidade, a cultura machista, através da educação também!!!
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Prezada Evelyn Koch:
Que caso triste! É realmente terrível. Lembramos do caso de Vitória Melissa, aqui no Brasil, muito parecido com o de Naira Ashraf. Toda nossa sororidade, solidariedade e apoio às mulheres do Egito, país em que ainda se pratica na surdina até mesmo mutilação genital feminina. Quanto à garota somali, esperamos que seja inocentada, pois tudo o que queria era se defender. Justiça por Naira! Por um fim do feminicídio e do feminicídio de honra! Precisamos lutar juntas em todo o mundo, de fato unidas pela nossa libertação.
Atenciosamente,
A Escola Feminista.
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Muito obrigada por seu envolvimento com essa pauta. A moça da Somália foi inocentada. Quero destacar que imediatamente ela foi ao escritório da ONU e com um representante da organização foi até a polícia. Temo pensar o que aconteceria a ela se fosse direto a polícia sem esse respaldo. Justiça para Naiara seja feita. Várias instituições públicas e religiosas estão emitindo notas sobre o assunto, e esperamos que a promotoria egípcia execute justiça.
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Se houver alguma petição por ela, não deixe de nos comunicar! Basta entrar no nosso site e clicar em “Contato”.
Att,
A Escola Feminista.
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Parabéns pela matéria uma das mais completas que li sobre o caso da Naira Ashraf, ficarei na torcida por Justiça,e acompanhando novas informações.
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