Vou desabafar. Talvez isso seja ofensivo para você, então se não se sentir confortável não precisa ler. Mas é aqui minha experiência pessoal e também minha oportunidade de falar sobre o que estou vivendo em primeira pessoa.
Eu me inscrevi em uma academia a 700 metros da minha casa. Pensei, melhor me inscrever em uma academia onde posso ir andando, assim evito de gastar diariamente com transporte até lá, já que meu orçamento de transporte por dia é de 70 reais (muito caro já).
Descobri, o que eu já desconfiava. No Egito as pessoas não caminham na rua. Eu conheço o Maryland Park aonde as pessoas caminham em volta ou dentro (se paga para caminhar dentro), e mais outros pequenos parques mas no geral, andar na calçada não é comum.
Nesses 700 metros, em alguns meses percebi muito bem, e vou listar algumas coisas que encontrei na rua em 2 meses de caminhada.
- Não existe sinal para atravessar a rua. Existe um radar ignorado pelos motoristas e uma placa sinalizando que pedestres cruzam a avenida, Isso inevitavelmente resulta em uma travessia muito perigosa. Não é fácil atravessar uma avenida de 8 faixas e carros em altas velocidade.
- Manutenção. Está acontecendo uma manutenção em um condomínio e no canteiro da rua. O material fica na rua, por semanas.
- Garrafas de urina. Eu encontrei em 2 meses 6 garrafas de urina em 700 metros. Algumas sumiram. Será que alguém pegou essas garrafas, se sim me pergunto por que?
- Homens fazendo xixi. Isso me incomoda muito, pra mim é atentado ao pudor. No Egito não encontrei quase ninguém beijando, abraçando na rua, mas homem fazendo xixi, muitos. Ou seja, tudo bem colocar o pênis pra fora, fazer xixi em lugar público, ser nojento.
- Cachorros mortos. Assustador. Eu fiquei muito triste ao ver o primeiro cachorro morto, e no total me deparei com 4 cachorros grandes mortos até agora. Penso que é de propósito. Alguém está envenenando os cachorros de rua. Não é atropelamento, não sei explicar mas é assustador, triste e fedido. Um deles alguém levou os outros estão em decomposição natural a céu aberto.
- Seringas. Não consigo entender porque alguém usaria uma seringa e jogaria na rua. Imagine, um muro de condomínio e em horários aleatórios uma fila de carros parada encostada lá. Eu que vim do Brasil chamo isso de boca.
- Garrafas de bebidas alcoólicas . Não teve nenhuma festa ali, mas eu sempre encontro garrafas de vidro vazias ou quebradas na rua. É inusitado porque 81% da população se declara muçulmana o que tornaria beber um absurdo.
- Lixo. Para quem mora aqui no Egito lixo é parte da vida. Desde 2011 empresas internacionais que faziam coleta de lixo saíram por conta da instabilidade política, e até agora não se resolveu o problema da coleta do lixo. Existe limpeza nas ruas, existe coleta de lixo, existe tudo isso mas se não for empresa particular, não é suficiente.
- Gente dormindo ou pedindo dinheiro. Não foram muitas vezes mas algumas vezes vi uma pessoa dormindo em um canteiro no caminho, vi uma mãe com o filho que abordava os motoristas pedindo dinheiro, e uma terceira mulher que tentou se comunicar comigo pedindo dinheiro.
Eu não estou dizendo, antes que venham colocar palavras na minha boca que isso não acontece em outros lugares, mas sim fiquei impressionada porque isso tudo extrapolou minhas expectativas. Em tão curta distância e período de tempo. Preciso avisar que moro em Nova Cairo, numa região bem organizada, limpa e moderna. Com certeza em outros bairros a experiência vai ser também diferente. Uma brasileira presenciou o desarmamento de um carro com bombas perto de uma igreja da própria janela, outra um linchamento.
Meu ponto é exatamente para as Alice’s que vivem no Brasil com um sonho de vir ao Egito e acham que é muito seguro. Já ouvi muitos guias se vangloriando de quão seguro o Egito é, enquanto estão absolutamente tensos durante todo o roteiro por causa do assédio de vendedores, pedintes, assédio, entre outras. Tem quem diz: No Egito você pode andar a noite tranquilo… E não deixa filha, esposa sair nem de dia, porque não é seguro.
E as Alice’s que moram no Egito e não precisam andar na rua tanto, ou vivem em condomínios fechados saindo apenas para eventos sociais… que nunca vão precisar fazer essas caminhadas pelas ruas (não por pistas de caminhada) que sem nenhuma empatia descreditam minha experiência, isolam meu caso e me tratam como ponto fora da curva. Uma pessoa muito sem sorte, né! Ou talvez com um pouco mais de experiência de “rua” do que elas?
Enfim. Qualquer Alice pode me enviar mensagem. Se você também quiser bater nas minhas costas e compartilhar seu desabafo melhor ainda. Eu preciso sentir que não estou sozinha.
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