Cotidiano

Mercado de trabalho no Egito

Nem todo mundo vem ao Egito para passear ou fazer turismo, muitas pessoas atravessam o atlântico para o país buscar trabalho, participar de projetos voluntários ou fazer intercâmbio. (e há quem venha também atrás de amor).

Neste artigo eu vou focar no mercado de trabalho no Egito, que é é um dos assuntos mais questionados nas nossas redes sociais.

Os brasileiros que vem para o Egito sem ter buscado trabalho antecipadamente ficam na dúvida em que áreas podem atuar no país. É importante ressaltar que antes de mais nada qualquer pessoa que vem com propósito de trabalhar deve ter o domínio do inglês, mesmo que não saiba o árabe, pois o inglês será o seu meio de comunicação dentro da empresa. Mas e se não falar inglês? Vai ser difícil mas não impossível, já vi pessoas serem contratadas sem saber inglês ou árabe, mas isso não é raro.

Áreas de atuação

Os setores que mais contratam brasileiros são: atendimento ao consumidor em projetos internacionais, engenharia, micropigmentação, educação, entretenimento, esporte e turismo. Ainda há outras áreas como marketing, comércio etc, mas a contratação em qualquer setor vai depender da experiência e do nível do candidato.

Se você pensa em trabalhar no Egito procure saber as bases salariais das posições que você procura, e busque informações sobre experiências de outras pessoas que trabalham no setor. Aqui no Egito eles valorizam muito a mão de obra estrangeira mas isso não quer dizer que as empresas vão contratar qualquer pessoa, eles buscam sempre contratar alguém qualificado.

Quanto ganha um brasileiro no Egito?

Uma pergunta difícil, porque tudo DEPENDE. Salários são muitas vezes negociáveis com exceção de algumas empresas.

Assim como existem diferentes áreas, qualificações e experiência comprovada, a base salarial também vai variar. Em alguns lugares os estrangeiros podem ganhar em dólar, já em outros podem receber na moeda local. Em Call Center, por exemplo, atualmente um Brasileiro pode chegar a receber entre 9.000le a 11.000le (em projetos internacionais que é necessário falar o português), já em projetos locais o salário pode ficar na faixa de 2.000le ou mais um pouco.

Profissionais da área de micropigmentação podem ganhar em torno de 20.000le , profissionais deste setor já vem com contrato pré-definido desde o Brasil.

Na área de educação, o melhor mercado para os brasileiros fluentes em inglês são as universidades, escolas e pré-escolas internacionais. Nas escolas internacionais os salários podem variar de 10.000le a 25.000le, nas pré-escolas os salários variam entre 4.000le a 6.000le.

Leia mais sobre custo de vida no Egito

Onde você pode buscar trabalho?

No facebook há grupos como Jobs in Egypt, Jobs in Egypt for foreigners, Jobs vacancies for expats and foreigners in Egypt.

Outras plataformas úteis para encontrar emprego são: Linkedin, Wuzzuf, Bayt, Glassdoor e Jobzella.

Se você está no Egito, pode optar também por comprar um jornal local, na parte de classificados há muitas ofertas de emprego.

Faça amigos, mantenha uma rede de contatos assim você pode saber de uma vaga ou até mesmo ser indicado para uma empresa.

Brasileiros que trabalham no Egito

Tive a oportunidade de conversar com alguns brasileiros que trabalham por aqui, e elaborei uma enquete com as seguintes perguntas:

  1. Qual a dificuldade encontrada no seu setor?
  2. Qual a base de salário para brasileiros nesta área?
  3. Qual dica você gostaria de dar para aos brasileiros que buscam trabalho nesta área no Egito?

Veja abaixo a opinião dos brasileiros entrevistados:

“Dificuldade pra mim no início foi a comunicação . A dica que dou é procure clínicas de renome , se especialize porque vale muito a pena . O salário chega a ser até três vezes a mais que no Brasil , sou Lash Designer, fora isso a quantidade de clientes atendidas por dia te trazem uma experiência incrível”

Rachel Castro, Lash designer

Na área estética a dificuldade é principalmente em desapegar a cultura de beleza brasileira, pois o conceito de beleza no Egito é diferente. Existe um volume grande de trabalho, então a jornada é em torno de 12 horas ou mais. A língua não senti dificuldade pois o inglês basicamente todos falam. Salário, a maioria das brasileiras negociam o salário em dólar, depende um pouco da área de atuação mas varia de 1.800 a 5000 dólares. O salário nem sempre é por mês, pode ser por 30, 40 até 50 dias trabalhados. Acredito que a primeira é analisar os prós e contras, pegar referência sobre a empresa, hospedagem, cultura, comida, transportes, basicamente tudo que vai necessitar no seu dia a dia, e principalmente saber inglês.

Ana Torrizella – Lash Designer

É no meu caso não é trabalho mas sim voluntariado remunerado. Qualificação e oportunidades pra crianças de baixa renda são uma dificuldade grande pra todos nós nesta área não só no Egito. Não tenho visto então não recebo salário, mas tenho amigos professores aqui que recebem em torno de 5.000 le por mês. Algumas Dicas, procurem vir já com alguma indicação de amigos ou escolas, mas se quiser se desafiar pode também vir direto e procurar por aqui mesmo pois é uma grande oportunidade e tem muitos bons alunos aqui, e eles também amam os brasileiros, pela maioria das coisas que temos em comum, por causa do bom futebol que jogamos, e a forma amorosa que ensinamos a eles, eles presam muito por isso, pelo respeito e a atenção no modo de ensino.

Carioca – Professor de Futebol

A maior dificuldade é a falta de oportunidade. Geralmente os egipcios tem as melhores oportunidades. Evidente que o idioma e o “nacionalismo” são os principais critérios em uma promoção. Em um call center a base para a língua portuguesa é 9mil libras egipcias. Claro que há lugares que pagam mais (não muito). É importante avaliar se o valor do salário já está incluso os impostos (para essa faixa salarial tributa-se em torno de 20% do salário). Dicas? As básicas – falar inglês é fundamental, tenha uma rede de contatos ampla (isso ajuda a saber se há vaga disponível no mercado e faixa salarial), esteja sempre disponível – nós brasileiros temos fama de trabalhamos bem, sermos disciplinados e estamos sempre de bom humor.

Ellen Shirayanagui – Customer Service Representative

A maior dificuldade é negociar. As coisas aqui no geral são bem informais, então cada escola tem a própria base salarial e regras por exemplo. A maioria não oferece contratos nem mesmo para egípcios. Eu moro em Alexandria então aqui os salários são menores do que no Cairo. Um estrangeiro com bom inglês mas sem experiência pode começar ganhando 4000 pounds. Se você já tiver experiência pode começar ganhando 6000/7000, mas como disse, depende da escola (sistema de ensino, tamanho da escola, perfil socioeconômico dos estudantes) e de como você negocia. Salário máximo para um professor é por volta de 15000 pounds. Não esperem por contratos como no Brasil e tenham um bom currículo com experiência profissional (aqui isso é mais importante do que a formação profissional). Seja firme enquanto negocia o salário. Caso a escola não ofereça um contrato, deixe tudo bem claro na negociação: salário, férias, pagamento de férias, transporte. Porque provavelmente essa conversa será a única coisa para se basear depois.

Anônima – Professora de Inglês e Estudos Sociais

Sou professora de inglês e o maior desafio foi entender como as escolas internacionais funcionam, e o sistema e ritmo de trabalho egípcio em geral, mas isso em qualquer emprego novo, especialmente em outro país. A maior dificuldade mesmo são as distâncias aqui no Cairo, acabei em um bairro onde as escolas não pagam tão bem e tenho que me deslocar por um salário maior. O bom é que as escolas fornecem transporte, algumas até acomodação, o que eu não recomendo porque você não terá liberdade. O salário nessa área fica na margem de 6 a 8 mil reais (com mestrado e anos de experiência). Porém, como tudo mais por aqui, depende da habilidade de negociação. As dicas são, tenha qualificação e experiência para ter um salário bom, não espere visto de trabalho tão cedo, o processo é longo, caro e as escolas enrolam o quanto podem. Mas vale a pena, o custo de vida aqui é baixo então você pode juntar dinheiro ou ter uma padrão de vida que seria difícil para uma professora no Brasil. As condições de trabalho aqui também são melhores, no Brasil eu trabalhava 3 turnos e ganhava muito menos, aqui trabalho 8h e não preciso levar trabalho para casa (as professoras sabem do que estou falando) as escolas dá o tempo de planejamento dentro das horas de trabalho. Ah! Ter um inglês ótimo é essencial, zero chances sem isso.

Taiana Azevedo – Professora de Inglês

A dificuldade é lidar com as diferenças culturais pois o estilo de vida é totalmente diferente. ´É necessário também fazer uma adaptação da dança para o mercado daqui. O salário depende da região que a bailarina trabalha e de que forma é acertado a forma de pagamento com o agente/ empresário , podendo ser um salário fixo mensal ou comissão por show realizado. Em média nas cidades de Sharm el Sheikh e Hurghada $700 já no Cairo a base inicial é de $1.000 dólares por mês. Sobre as dicas, pesquise e se informe com pessoas que já vivem aqui, sobre a cultura, religião, estilo de vida e modo de pensar dos egípcios, sobre como que funciona o mercado nessa área, esteja atenta às exigências de padrão de beleza e dança que eles querem. Não confie em qualquer agente/empresário ou CIA que esteja oferencendo trabalho antes de pesquisar bem sobre. Venha disposta e de coração aberto a novas experiências.

Lurdiana – Bellydancer

Reconhecimento de Diploma

Reconhecer o diploma antes de embarcar para qualquer país é de suma importância caso você queria atuar na sua área de formação. Conversei com a Simone sobre o processo de reconhecimento e validação do diploma brasileiro aqui no Egito. Ela é dentista e fez uma verdadeira jornada para reconhecer os documentos e poder atuar na sua profissão no país. A Simone vive em Marsa Matrouh no norte do Egito, confira o relato:

Mercado de trabalho para a área da saúde existe muito, principalmente para enfermeiro e dentista. Para atuar aqui, você precisa trazer todos os seus documentos: históricos escolares, diploma etc, tudo traduzido para o inglês ou árabe com tradutor juramentado, firma reconhecida e carimbo do Ministério dos Serviços Estrangeiros e Fronteiras do Brasil. O tradutor e os reconhecimentos de firma tem custo. 3 anos atrás eu paguei para tradução 250 reais por folha para o árabe e 120 reais para o inglês. Além disso você precisa enviar os documentos para a Embaixada ou Consulado do Egito no Brasil (para ser carimbado, isso também tem um custo). Depois você traz todos os papéis para o Egito, leva para a Faculdade do Cairo e aguarda a validação (espera de 4 a 6 meses), você paga uma tava por volta de 2000 libras egípcias (3 anos atrás). Lembrando que, no Brasil você precisa fazer cópia de todos os documentos e também incluir os carimbos e e reconhecimentos, porque na Faculdade do Cairo eles vão pegar os originais, porém outra alternativa é reconhecer as cópias na Embaixada do Brasil no Cairo e entregá-las à Faculdade ao invés dos originais. Depois dessa saga você aguarda a sua licença do Ministério da Saúde. Em relação ao salário no setor privado, se o profissional trabalhar de segunda a sexta pode chegar a ganhar em torno de 20,000 libras. No caso de médicos no setor público, ganha-se bem menos, em torno de 4,000 mil libras. É importante ressaltar que os materiais de uso contínuo na odontologia são extremamente caros e todos vem do exterior.

Simone – Dentista e Digital Influencer no Além das Pirâmides

Em síntese:

  • Tradução juramentada dos documentos
  • Reconhecimento de firma (originais e cópias)
  • Carimbo (Ministério dos Serviços Estrangeiro e Fronteiras)
  • Carimbo (Embaixada ou Consulado do Egito no Brasil)
  • Reconhecimento das cópias (Embaixada do Brasil no Cairo)
  • Entregar os documentos na Faculdade no Cairo
  • Aguardar o processo
  • Receber a licença do Ministério da Saúde

Visto de trabalho

Esse ponto creio que é o mais complicado para todos, a maioria das empresas não fornecem visto de trabalho, e os brasileiros acabam tendo que trabalhar com visto de turista. Isso porque o visto de trabalho tem um custo muito alto para as empresas, então por isso elas se esquivam deste detalhe. A cada 1 estrangeiro trabalhando na empresa, tem que tem X egipcios ganhando Y. Aqui eles não querem prestar as contas sobre os funcionários estrangeiros porque teriam que pagar muitas taxas, quase o equivalente a sonegar imposto no Brasil. Fora que se algo acontecer com o funcionário estrangeiro, é mais dor de cabeça para a empresa.

Contratos de trabalho

Há muita informalidade no Egito, mesmo dentro de grandes empresas. Não espere ver uma realidade como no Brasil onde há um contrato certinho e direitos trabalhistas seguidos na ponta do lápis.

Férias, planos de saúde e transporte

Normalmente as férias anuais são 21 dias, mas há exceções, pois cada empresa tem uma política interna. A maioria das organizações de médio e grande porte oferecem plano de saúde e seguro social (este último somente para quem tem nacionalidade egípcia). Grandes empresas e indústrias oferecem transporte ou auxílio transporte em dinheiro.

Licença maternidade

A licença maternidade dura 3 meses, algumas empresas dão apenas 45 dias (call centers por exemplo). A maioria remunera os 3 meses, outros locais só remuneram por 1 mês. Na lei egípcia, em organizações que tenham mais de 50 funcionários, as mães podem pegar até 2 anos de licença maternidade porém sem salário (mas muitas organizações privadas não aceitam a extensão além dos 3 meses). Há uma outra lei que reduz 1 hora da jornada de trabalho diária da mãe lactante por 2 anos. Gestantes não podem ser despedidas do trabalho e as empresas que tenham mais de 100 funcionárias devem ter uma creche interna para cuidar das crianças das suas funcionárias (é o que a lei egípcia diz, não quer dizer que isso funcione na prática).

Confira aqui a Lei do Trabalho do Egito (em inglês)

Conclusão

Existem excelentes trabalhos e apesar de não termos todos os direitos que antigamente haviam no Brasil, trabalhar no Egito é uma ótima experiência.

Você já trabalhou no Egito? Conta nos comentários a sua experiência.


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