Se você já viu apresentações de folclore egípcio, viu naquele momento uma representação do trabalho do grande artista Mahmoud Reda. Para falar sobre a arte da dança no país nos últimos setenta anos é preciso considerar tudo que a Reda Trupe fez e o impacto social, artístico e cultural que ela reverberou em todo o Egito.
O gênio por trás da dança-teatro no Egito
Mahmoud Reda, nasceu em 1930 no Cairo em uma grande família de classe média que apreciava diversas formas de arte e esportes. Seu irmão, Ali Reda foi o primeiro a entrar no mercado artístico, e isso influenciou imensamente o Mahmoud Reda. (Atualização: Mahmoud Reda faleceu na manhã de 10 de Julho de 2020)
Reda era um ginasta e inclusive representou o Egito nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952 em Helsinque. Frequentou a Universidade do Cairo, onde se formou em Economia. Porém ele não seguiu sua carreira acadêmica, seu principal sonho e interesse era a arte da dança.
Após a sua formação na UC, ele se juntou a uma companhia de dança argentina e viajou pela Europa, foi durante uma turnê em Paris, que ele decidiu começar seu próprio grupo de dança no Egito.
Ao voltar para sua terra natal, Reda juntou-se ao seu irmão Ali Reda, e começaram a trabalhar para construir a Trupe Reda. Nesse caminho conheceu a bailarina egípcia Farida Fahmy, que se tornou sua grande parceira de dança.
Em 1955, Reda casou com Nadeeda Fahmy, a irmã mais velha de Farida Fahmy. Nadeeda atuou como figurinista da Trupe Reda até sua morte prematura em 1960.
Não podemos representar o folclore como é. O folclore é como a grande pirâmide. Não posso trazer a grande pirâmide para o Balloon Theatre. Meu trabalho foi inspirado na arte folclórica; por exemplo, a dança Hegala (dança do ventre beduína) em Marsa Matrouh, onde você pode dar dois ou três passos e eu posso me inspirar nisso. O teatro tem suas próprias regras e normas, e eu não posso representar a coreografia da dança folclórica como ela é, tem que ser na forma de teatro.
O que fiz foi uma aventura que poderia ter dado errado. Eu me inspirava em uma dança do Alto Egito, por exemplo, desenvolvia-a e mudava a cor dos trajes. Eu me inspirava no desenho.
Meu trabalho era uma mistura da dança folclórica original, do balé que aprendi aqui e em Paris e meu próprio estilo pessoal, e isso surpreendentemente deu certo.
Mahmoud Reda em entrevista para o jornal Ahram
Mahmoud Reda viajou por vários locais do Egito para fazer uma pesquisa de campo sobre culturas e costumes locais, foi através dessa jornada pelo Egito juntamente com sua experiência em outras danças como o Ballet, Dança Moderna e Dança de Salão, que ele desenvolveu coreografias, figurinos e um estilo de dança representativo para cada grupo cultural. Além disso Reda desenvolveu um estilo de técnica de ensino próprio que influênciou todos os profissionais do setor posteriormente.
Em seu método de ensino, Mahmoud Reda segmentou, codificou,e todas as variações possíveis foram extraídas e depois desenvolvidas para exercícios de aquecimento e várias rotinas. Movimentos populares e passos de dança folclórica foram coletados, estudados e desenvolvidos em exercícios praticados todos os dias. Não apenas os dançarinos estavam melhorando suas habilidades de dança, mas o progresso lógico da sequência de exercícios e a ordem pela qual as aulas foram formadas trouxeram uma disciplina que ajudou a promover o profissionalismo de que todos os dançarinos precisam.
Farida Fahmy
Embora a trupe Reda fosse bem famosa na sociedade do Cairo, ela não era conhecida em todo o Egito, mas isso mudou em 1961, quando Mahmoud Reda e Farida Fahmy estrelaram o filme Igazah nisf as-sinah, um filme dirigido pelo irmão Ali Reda, O sucesso continuou através dos filmes Gharam fi al-karnak de 1967 e Harami El-Waraqa de 1970.
Reda parou de dançar em 1972, mas continou trabalhando na trupe como coreógrafo e diretor, nesta época a trupe já contava com 150 pessoas no corpo de baile, sem contar músicos e toda a equipe que acompanhava a trupe. Ele também viajou para vários países para ministrar workshops de dança.
Com o passar dos anos, muitas gerações de bailarinos que mais tarde se tornaram professores, se beneficiaram do método de ensino de Mahmoud Reda. Aqueles que aprenderam diretamente, assim como aqueles que aprenderam com os outros. Em resumo, toda geração de professores egípcios deve gratidão a Mahmoud Reda, pioneiro e criador da dança-teatro ou dança como forma de entretenimento no Egito. Todos os professores devem agradecer a Mahmoud se aprenderam diretamente com ele ou com outros.
Farida Fahmy
O sucesso levou a Reda Trupe a viajar pelo mundo em 5 turnês internacionais, levando para vários países o trabalho magnífico inspirado no folclore egípcio. Mahmoud Reda assim como Farida Fahmy já estiveram no Brasil participando de festivais de dança como professores.
Assista abaixo o filme completo Gharam Fi El Karnak, 1967.
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